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Queridos, no trecho que lemos, o Senhor Jesus já havia sido entregue a Pilatos, para ser sacrificado em lugar dos pecadores. Como podemos perceber, várias pessoas, ou várias classes de pessoas estão envolvidas no processo: Pilatos, poder do governo como um fim em si mesmo, e os soldados romanos como poder de coerção social injusta; os sacerdotes, poder de coerção religiosa no interesse próprio; o povo, poder de pressão, como massa de manobra a serviço dos sacerdotes; e Jesus, poder da liberdade para obedecer ao Pai, Senhor do reino cósmico e tudo que nele se contém.

Todos eles, mesmo que alguns ignorem, como Jesus deixou claro a Pilatos, fazem parte do reino cósmico de Deus, e prestarão contas dos seus atos no último dia.

Vamos examinar algumas visões diferentes do reino de Deus, começando com Pilatos. O homem era um governador romano, e como acontece em grande parte dos casos, deixou que o cargo tomasse uma dimensão muito superior à sua própria pessoa, sacrificando as suas convicções éticas pela manutenção do cargo (vv.4;6b). Como governador, Pilatos deveria agir com senso de justiça inerente ao cargo. Ele sabia o que tinha de fazer, mas viu que agindo de forma correta desagradaria à multidão, e poderia ser acusado de infiel ao imperador (v.12). Para manter o cargo, agiu de forma injusta, temendo aos homens ao invés de temer a Deus.

Quantos de nós agem assim? Quantos de nós vivem na base do politicamente correto e do socialmente aceito? Quantas vezes deixamos nossos cônjuges, filhos, irmãos da Igreja, amigos, ou colegas de trabalho tomar decisões erradas e viverem de forma ímpia, simplesmente porque queremos nos poupar evitando o confronto? Será que, como Pilatos, não percebemos que estamos temendo aos homens ao invés de temer a Deus?

Pilatos teve oportunidade de se arrepender, quando o Senhor Jesus lhe disse que o seu poder provinha de Deus, e não dos homens (vv.10-11). Nós também, irmãos. Nós também temos oportunidade de enxergar o nosso erro e de nos arrepender cada vez que ouvimos a Palavra de Deus pregada com integridade, sabendo que é a Deus, e não a homens que haveremos de prestar contas. Ele é o nosso único Senhor, e o nosso Juiz.

Outra classe a ser observada é composta pelos sacerdotes, e pelo povo judeu como massa de manobra nas suas mãos (vv.6a;15). Convém lembrar que o texto não trata de um povo qualquer. Trata dos israelitas, os descendentes de Abraão, o povo de Deus, de quem Paulo testifica que a eles foram confiados os oráculos de Deus (Rm 3.2).

Os sacerdotes eram os guardiões desses oráculos, a quem competia a tarefa de ensiná-los ao povo. No entanto, aqui nesse texto, de forma incrível, vemos um governador ímpio tentando convencê-los de que Jesus era o seu Rei, e eles não aceitaram, mesmo admitindo que tinham uma lei (v.7). Mais incrível é que era essa lei que testificava que Jesus era o descendente de Davi, o Messias prometido, o Filho de Deus.

Era essa lei que prometia um profeta semelhante a Moisés (Dt 18.15,18), e que esse profeta deveria ser ouvido. Jesus lhes disse que ele era esse profeta de quem Moisés falara (Jo 5.46), deu testemunho disso através de sinais e maravilhas, e mesmo assim, os seus não o receberam (Jo 1.12). Certa vez Jesus os censurou dizendo que eles examinavam as Escrituras julgando ter nelas a vida eterna, quando são as próprias Escrituras que dão testemunho de Jesus, e eles não creem nele (Jo 5.39).

Irmãos queridos, prestem atenção! Quando rejeitamos o conhecimento de Deus, ele nos entrega à nossa própria sorte para que façamos as coisas conforme o nosso entendimento, e isso só resulta em confusão e tribulações,. Quando Deus não mata fisicamente como matou Faraó, Nadabe e Abiú, Acã, Ananias e Safira, por causa da desobediência obstinada, o seu juízo é imposto na forma de cegueira espiritual, o que, na minha concepção, é muito pior do que a morte física, porque ficamos escravos do pecado.

Esta era a situação daqueles judeus nos dias de Jesus. Pilatos queria soltá-lo, mas, manobrados pelos sacerdotes, o povo o rejeitou deliberadamente. Vejam o perigo dos falsos pastores, dos falsos mestres, contra os quais os profetas do A. T., Jesus e os apóstolos tanto alertaram, e eu sigo o seu exemplo, ainda que desagrade a muitos.

Ah! Irmãos, o pior juízo de Deus contra nossa desobediência à sua palavra é nos entregar a nós mesmos, à impiedade dos nossos corações, e ele fará isso a quem rejeitar os seus ensinamentos, como afirmam as Escrituras: Porquanto aborreceram o conhecimento, e não preferiram o temor do Senhor, não quiseram o meu conselho e desprezaram toda minha repreensão. Portanto comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão (Pv 1.29-31).

Por isso, não sejamos como aqueles judeus. Não nos deixemos levar pelo nosso próprio entendimento, pela ilusão dos ensinos dos falsos pastores, pensando que estamos agradando a Deus, sabendo que, neste caso, é o próprio Deus quem nos entrega à operação do erro, para darmos crédito à mentira (2Ts 2.11). Por isso, incrivelmente, era o povo de Deus quem pedia a crucificação do Filho de Deus. E nós, não somos o povo de Deus? Então, o que nos faz pensar que somos diferentes?

Todos os personagens examinados até aqui são exemplo de uma visão corrompida do reino de Deus. Todos eles detêm uma forma de poder instituído por Deus, no seu reino, mas o usam de forma corrupta, em proveito próprio, de acordo com os seus próprios desejos, e isso continua rigorosamente atual na vida do autodenominado povo de Deus.

Mas, há um personagem, Jesus, contra quem todos os outros se voltaram, e cujo poder era o conhecimento do Pai e a determinação de obedecê-lo, cumprindo o propósito de salvar os eleitos de Deus. Jesus é o nosso exemplo, ele é o nosso verdadeiro Mestre. Ele chegou a dizer que a sua comida era fazer a vontade do Pai (Jo 4.34). Irmãos, quando examinamos detidamente a vida e a conduta do Senhor Jesus, não podemos ficar insensíveis a tão grande amor.

Como pode o Deus Filho, a segunda pessoa da Trindade Santíssima, aqui neste mundo, na forma de homem frágil como nós, ter tamanho poder para suportar a rejeição do seu próprio povo, o escárnio, a crueldade dos soldados, as chicotadas, a coroa de espinhos e a crucificação, mesmo sabendo que era justo, e que estava sendo sacrificado pelos injustos. De onde vem esse poder? O que fazer para ser capacitado com esse poder?

O poder vem de Deus, o Senhor do universo, o Rei soberano sobre o seu reino, e a capacitação vem pelo conhecimento e pela obediência aos seus mandamentos, pela fé, a partir da revelação que ele mesmo nos dá, pela sua graça. Não foi ele quem criou? Não foi ele quem amaldiçoou? Não é ele quem mantém? Não é ele quem liberta da maldição do pecado? Então os seus filhos eleitos devem agir de acordo com esse conhecimento.

Foi o que fez Jesus. Como ele mesmo disse, ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar (Mt 11.27). Porque conhecia o Pai, Jesus sabia que tinha que fazer a sua vontade para restabelecer o seu reino, e aqueles a quem o Filho quiser revelar agirão da mesma forma. Não podemos esquecer que Jesus sofreu por causa dos nossos pecados, que ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, que ele foi ferido por causa das nossas iniquidades, tudo para que fôssemos salvos, porque essa era a vontade do Pai, único meio de restabelecer o seu reino.

Esta é visão correta do reino de Deus, reino do qual fazemos parte e devemos testemunhar a partir da revelação que o próprio Deus nos dá nas Escrituras Sagradas. Jesus venceu o mundo, o pecado, o diabo e a morte, restabelecendo o reino de Deus, conforme o seu desígnio eterno, e nós fazemos parte desse reino restabelecido.

É isso que nós precisamos trazer à memória, e esse é o exemplo que devemos seguir, o exemplo do Senhor Jesus, e não o exemplo de Pilotos, embriagado pelo poder do governo; ou o exemplo dos sacerdotes, embriagados pelo poder de coerção como líderes religiosos; ou ainda o poder estúpido do povo, como massa de manobra nas mãos de líderes corruptos, todos estes, poderes que levam à morte.

Com a visão correta do reino de Deus, reino restabelecido do qual nós já fazemos parte, o poder que precisamos é o poder da obediência de Cristo Jesus, poder que conduz à vida, e vida em abundância, desde agora até a consumação do reino eterno de Deus, para louvor da glória de Deus Pai. Amém.