A soberana misericórdia de Deus – Rm 9.14-18

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Queridos, todos os atributos de Deus são soberanos, e igualmente justos. Nenhum atributo se sobressai em detrimento de outro. Uma única ação de Deus pode revelar, por exemplo, dois atributos ao mesmo tempo, e com total equidade. Em determinadas situações podemos ver a ira de Deus se manifestando ao tirar a vida de uns, exatamente em função da sua misericórdia em preservar a vida de outros. Realmente, quanto mais conhecemos o nosso Deus, mais maravilhados ficamos com a sua sabedoria.

Mas, por sermos pecadores, de acordo com os nossos valores pervertidos pelo pecado, tendemos a preferir e valorizar apenas os atributos de Deus que nos favorecem: misericórdia, compaixão, bondade, graça, perdão, amor, etc. e reproduzimos esses atributos de forma equivocada, a ponto de estragar os nossos filhos, negando-lhes a justiça de Deus que se manifesta na sua ira, e esta nós não gostamos. Quando conhecemos o nosso Deus, sabemos que todos os seus atributos são igualmente justos, perfeitamente direcionados de acordo com a sua soberania, e não como nós imaginamos ou preferimos.

Sobre a misericórdia de Deus, um dos atributos preferidos por nós, o que nos ensina a Escritura? Assim como todos os atributos de Deus, a sua misericórdia de manifesta de forma geral e especial. Sabemos que misericórdia é a bondade, o amor de Deus demonstrado por quem merecidamente está na miséria. Na sua soberania, Deus concede a sua dádiva imerecida, seja material ou espiritual, tirando o pecador da miséria em que vive. A misericórdia de Deus, como todos os seus atributos, é totalmente vinculada à sua soberania, e ele a concede a quem quer, não fazendo acepção de pessoas (vv.14-15).

Segundo o Sl 145.9, o Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras. Como Deus é maravilhoso! Todas as suas obras, de alguma forma, são permeadas pela sua misericórdia. Portanto, é bom saber e lembrar que a misericórdia de Deus também é exercida em favor daqueles que não são salvos (v.15).

O salmista Asafe, no SL 73, e o profeta Habacuque, na sua oração, manifestam a sua queixa pelo fato de Deus ser misericordioso com os ímpios, com os injustos, concedendo-lhes riqueza e fartura, enquanto o povo de Deus passava por grandes tribulações. O Senhor Jesus, por sua vez, demonstrou a sua misericórdia, curando inúmeras pessoas que não o adoravam, nem mesmo depois de curadas, e ele sabia disso. Em seu ensino, o Senhor Jesus afirmou categoricamente que Deus faz nascer o sol sobre maus e bons e vir a chuva sobre justos e injustos (Mt 5.45). Esta é a misericórdia geral concedida por Deus, conforme a sua soberania (vv.14-15).

Porém, a misericórdia de Deus se revela de forma especial para os seus eleitos. É por isso que a Escritura nos manda orar por todos os homens, pelos governantes, sejam eles bons ou maus, porque o bem-estar social dos governados depende da atuação dos governantes. Além disso, não sabemos se Deus os converterá a seu tempo. Irmãos, nós precisamos compreender a amplitude, e também o objeto da misericórdia de Deus.

É sobre isto que Paulo está ensinando: a misericórdia de Deus no âmbito da sua soberania. Referindo-se à Escritura do Velho Testamento (Êx 33.19), o apóstolo ensina que Deus é soberano, e terá misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia, e aqui Paulo está falando de salvação. Alguns versículos antes, ele cita o caso dos gêmeos Esaú e Jacó, que ainda não eram nascidos, ainda não haviam praticado o bem ou o mal, e Deus escolheu a Jacó e não a Esaú, para que ficasse clara a sua eleição soberana.

Pelo desconhecimento da Escritura, os ensinamentos normalmente transmitidos acerca da misericórdia de Deus são incompletos, tendenciosos e humanistas. É correto afirmar que Deus é misericordioso em seu ser, assim como precisamos saber e ensinar que Deus não se curva à vontade humana, que ele é soberano no exercício da sua misericórdia, seja ela geral, na esfera da criação, ou especial, na esfera da redenção.

Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (v.16). No versículo seguinte, podemos contemplar a graça e a misericórdia de Deus com Faraó ao levantá-lo como rei do Egito. Aqui, obviamente, trata- se da graça geral, da misericórdia geral de Deus, com a finalidade específica de que o seu nome fosse anunciado por toda a terra (v.17).

Ao meditar neste ensino de Paulo com base na lei (Êx 9.16), conciliando-o com o Salmo 136, não podemos deixar de ficar maravilhados com a soberania de Deus, com a sua sabedoria ao trocar a sua misericórdia geral pela sua ira, a fim de manifestar a misericórdia especial aos seus eleitos: àquele que separou em duas partes o Mar Vermelho, porque a sua misericórdia dura para sempre; e entre elas fez passar a Israel, porque a sua misericórdia dura para sempre; mas precipitou no Mar Vermelho a Faraó e ao seu exército, porque a sua misericórdia dura para sempre (vv.13-15).

Ou seja, a sua misericórdia geral para com Faraó, a quem Deus levantou como Rei, transformou-se em ira, a fim de que, por outro lado, se manifestasse como misericórdia especial para livrar o seu povo eleito. Os dois atributos de Deus, manifestados na mesma ocasião, conforme a sua soberania.

E o salmista prossegue narrando que Deus tirou a vida a grandes reis, reis que ele mesmo havia levantado com o propósito de disciplinar o seu povo, conforme a sua palavra, porque a sua misericórdia dura para sempre. De que misericórdia o salmista está falando, irmãos? Como Paulo, ele está falando da misericórdia especial de Deus para com os seus eleitos, e não podemos deixar de enxergar a clara relação entre a misericórdia e a ira de Deus. Como já foi dito, todos os atributos de Deus são igualmente justos, perfeitamente direcionados de acordo com a sua soberania, e não como nós imaginamos ou preferimos.

Como vemos no Sl 136, Deus, em sua soberania, pode usar ira e misericórdia na mesma ação, ao mesmo tempo, em objetos diferentes: a ira sobre uns é exatamente a manifestação da misericórdia sobre outros, como foram os casos citados pelo salmista. O caso mais expressivo desta verdade é a morte de Jesus na cruz do Calvário.

Naquele mesmo momento em que a ira de Deus esmagou o seu Filho por causa dos nossos pecados, na cruz do Calvário, ali, no mesmo momento, Deus nos concedeu a sua misericórdia, livrando-nos da miséria do pecado, da morte e do inferno. Irmãos queridos, quando meditamos profundamente nestas coisas, não podemos negligenciar a tão grande graça, sabendo que, em sua soberania, Deus tem misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz (v.18).

Deus nos livre de haver alguém aqui com o coração endurecido contra a palavra de Deus, e isso pode ser evidenciado por uma simples indisposição para participar dos estudos bíblicos, aprender e obedecer. Por isso, que cada um examine-se a si mesmo, e se perceber alguma resistência à palavra do Senhor, o que também pode ser evidenciado em uma simples antipatia por algum irmão, arrependa-se, clame pela misericórdia de Deus.

Ele tem misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz. Por isso, cabe-nos clamar incessantemente pela sua misericórdia, confiantes na sua soberania e na sua sabedoria, certos de que todas as coisas, de uma forma ou de outra, quer entendamos ou não, quer aceitemos ou não, acontecem de acordo com os propósitos de Deus, para o louvor da sua glória.

Que Deus nos conceda graça para entender a sua revelação, admirar a sua sabedoria soberania em aplicar a sua misericórdia, e mais graça a fim de que nos esforcemos para viver segundo a sua vontade, para louvor da sua glória. Amém.